quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

NÃO HÁ AMOR MAIOR


Qualquer que fosse seu alvo inicial, os tiros de morteiros caíram em um orfanato dirigido por um grupo missionário na pequena aldeia vietnamita. Os missionários e uma ou duas crianças morreram imediatamente e várias outras ficaram feridas, incluindo uma menininha de uns oito anos de idade.
As pessoas da aldeia pediram ajuda médica de uma cidade vizinha que possuía contato por rádio com as forças americanas. Finalmente, um médico e uma enfermeira da Marinha americana chegaram em um jipe apenas com uma maleta médica. Determinaram que a menina era a que estava mais gravemente ferida. Sem uma ação rápida, ela morreria por causa do choque e da perda de sangue.
Uma transfusão era imprescindível e era necessário um doador com o mesmo tipo sanguíneo. Um teste rápido revelou que nenhum dos americanos possuía o tipo correto, mas vários dos órfãos que não haviam sido atingidos tinham.
O médico falava um pouco de vietnamita simplificado e a enfermeira possuía uma leve noção de francês aprendido no colégio. Usando essa combinação, juntos e com muita linguagem de sinais improvisada, eles tentaram explicar para a jovem e assustada platéia que, a não ser que pudessem repor o sangue perdido da menina, ela com certeza morreria. Então perguntaram se alguém estaria disposto a doar um pouco de sangue para ajudar.
Seu pedido encontrou um silêncio estupefato. Após longos momentos, uma mãozinha lenta e hesitantemente levantou-se, abaixou-se e levantou-se novamente.
- Oh, obrigada - disse a enfermeira em francês - Qual é o seu nome?
- Heng - veio a resposta
Heng foi rapidamente colocado em um catre, os braços limpos com álcool e uma agulha inserida em sua veia. Durante toda a penosa experiência, Heng permaneceu tenso e em silêncio.
Depois de algum tempo, ele soltou um soluço trêmulo, cobrindo rapidamente seu rosto com a mão livre.
- Está doendo Heng? - perguntou o médico.
Heng balançou a cabeça, mas, após alguns instantes, outro solluço escapou e mais uma vez ele tentou esconder o choro. Novamente o médico perguntou se a agulha o estava machucando e novamente Heng balançou a cabeça.
Porém agora seus soluços ocasionais haviam dado lugar a um choro constante e silencioso, seus olhos apertados, o punho na boca para abafar os soluços.
A equipe médica estava preocupada. Algo obviamente estava muito errado. Nesse momento, uma enfermeira vietnamita chegou para ajudar. Vendo o sofrimento do pequeno, ela falou rapidamente com ele em vietnamita, escutou sua resposta e respondeu-lhe com a voz reconfortante. Após um instante, o paciente parou de chorar e olhou interrogativamente para a enfermeira vietnamita. Quando ela assentiu, um ar de grande alívio se espalhou pelo rosto do menino.
Olhando para cima, a enfermeira contou calmamente para os americanos:
- Ele achou que estava morrendo. Entendeu errado. Achou que vocês haviam pedido que ele desse todo o seu sangue para que a menina pudesse viver.
- Mas por que ele estaria disposto a fazer isso? - perguntou a enfermeira da Marinha.
A enfermeira vietnamita repetiu a pergunta para o menino, que respondeu simplessmente:
- Ela é minha amiga.
(Col. John W. Mansur)

Um comentário:

  1. Nossa!!
    Que coisa mais cruel, mesmo assim o gesto de nobreza e coragem fez com que um humilde menino realizasse um feito tão digno de um grande homem.
    Menino cheio de atitude!!
    Belíssima história.

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